O Banco de Resíduos, da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, lançou na última sexta-feira, na FIERGS, o livro Carvão Vegetal do Rio Grande do Sul, de Dr. Geraldo Mario Rohde. A obra é uma importante referência no Brasil, que atualmente é o maior produtor de carvão vegetal do mundo.
A significância dessa obra foi apresentada pelo Presidente do Banco de Resíduos, Sr. Tito Goron, que entre outros importantes pontos destacou “ao longo desta nossa caminhada tomamos conhecimento do enorme prejuízo que traz à Indústria do Carvão Vegetal Renovável o errôneo enquadramento de seu produto final como perigoso para circulação até o mercado, fato que inviabiliza seu transito eficaz, e resolvemos imediatamente apoiar esta obra desenvolvida para esclarecer tecnicamente e desmistificar o equivoco daquela postura, e trabalhar para sua disseminação na sociedade”.
Dr. Geraldo Rohde apresentou uma síntese do livro à platéia, falando da pesquisa realizada ao longo dos anos. De acordo com os dados apresentados “cerca de 30% dos custos do transporte do carvão vegetal estão relacionados a medidas de segurança sem necessidade, pois as experiências realizadas comprovam que não há risco de combustão”, ressaltou Rohde. Em seguida, o autor abriu espaço para perguntas e seguiu com a sessão de autógrafos.
Saiba mais sobre o carvão vegetal
(Texto do Dr. Geraldo Mario Rohde)
O carvão vegetal é um dos vários tipos de carvão artificial, contrapondo-se ao carvão fóssil, também chamado "mineral", que tem origem natural a partir das transformações de vegetais e, minoritariamente, animais. O carvão vegetal é o produto principal da pirólise da madeira, a carbonização da madeira por combustão incompleta. Tanto o processo quanto a atividade de carbonização são denominadas popularmente de "carvoejamento".
O carvão vegetal, também conhecido como "carvão de madeira" (ou, ainda, "carvão de lenha") é o resíduo da combustão incompleta ou da destilação da madeira, pela carbonização por combustão incompleta ou por destilação, que nada mais é do que o aquecimento gradual da madeira ou lenha no ar rarefeito, provocando primeiro a expulsão da água, seguindo-se outros produtos volatilizáveis (denominados imprecisamente de "voláteis"), restando o carbono livre. De maneira mais simples, a carbonização da madeira ocorre pela ação do calor, desprendendo primeiro a água nela contida sob a forma de vapor e, após, os líquidos orgânicos e gases não-condensáveis, ficando como resíduo o carvão vegetal. A transformação da madeira ou lenha começa a cerca de 180 oC e se completa a cerca de 400 Oc.
A qualidade do carvão vegetal obtida depende da madeira (espécie arbórea, tamanho e umidade contida) e do método de carbonização, apresentando sempre sob a forma da madeira que o originou, muitas vezes continua exibindo até a sua estrutura.
O carvão vegetal é utilizado no Brasil como combustível industrial (nas usinas siderúrgicas, metalurgia, indústrias de cimento), comercial (hotéis, saunas, motéis, padarias, pizzarias, restaurantes e churrascarias), doméstico rural e urbano (lareiras, fornos, churrasqueiras, grelhas, etc.) e, inclusive, em usinas termelétricas.
O carvão vegetal é, nos mais variados países do mundo, produzido a partir de madeira ou de resíduos de madeira pelo processo de carbonização (ou pirólise), usando fornos de terra, argila, alvenaria (tijolo) ou modernos fornos industriais. Os fornos de argila são usados para a produção de carvão vegetal há mais de 2500 anos.
O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal, sendo que mais de dois terços de sua produção são utilizados pelas indústrias siderúrgica e metalúrgica, principalmente em Minas Gerais e Pará. Nos demais estados do Brasil, o uso principal é o preparo de alimentos (por cocção e em grelha) como o caso de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tendo em vista o preparo típico do tradicional churrasco gaúcho com este combustível, muitas vezes ele é referido como "carvão de churrasco".
Além do grande consumo, o Brasil também é o principal produtor mundial de carvão vegetal, sendo que a produção por meio de florestas plantadas (do gênero Eucaliptus, de modo geral e Acacia ou Pinus) vem se ampliando cada vez mais de maneira a atender às restrições ambientais.
Em relação às tentativas para desenvolvimento da tecnologia de produção do carvão vegetal, o uso dos tradicionais fornos "rabo quente" (fornos de argila e/ou tijolo) está evoluindo para o uso de fornalhas retangulares e processos de pirólise/carbonização industriais muito mais eficientes, gradualmente sendo adotados. O carvão vegetal é produzido no Estado do Rio Grande do Sul utilizando tecnologias tradicionais de fornos de alvenaria.
De maneira esquemática, a produção de carvão vegetal no Rio Grande do Sul segue a seguinte forma:
MADEIRA + CALOR: CARVÃO VEGETAL + VAPORES CONDENSÁVEIS + GASES INCONDENSÁVEIS.
O valor de 7365 kcal/kg (30,8 MJ/kg) é apontado como poder calorífico inferior médio do carvão vegetal. Os valores de 27450 kJ/kg (Oliveira Filho, 1987, p. 3) e de 27170 kJ/kg (Andrade; Sasseron; Oliveira Filho, 1984, p. 4) também são citados.
No processamento comercial final, durante a fragmentação do carvão vegetal bruto e ensacado provisoriamente, ocorre um resíduo de distribuição granulométrica menor, pulverulento, denominado popularmente de "moinha", que perfaz de 8 a 10% do processo final.
O carvão vegetal produzido no Estado do Rio Grande do Sul é, geralmente, colocado no mercado em embalagens comerciais de 3, 4, 5, 7 e 10 quilogramas.
No Estado do Rio Grande do Sul, destacam-se os municípios de Brochier, Maratá, Pareci Novo, Montenegro, Salvador do Sul, Paverama, Teutônia, Novo Hamburgo, Taquari, Guaporé, Poço das Antas, Cachoeira do Sul, São Jerônimo, Butiá, Viamão, Alvorada e Gravataí, entre outros, como produtores de carvão vegetal.
Do ponto de vista da distribuição geográfica da produção de carvão vegetal no Estado, nota-se uma concentração nas regiões do Vale do rio Caí, Vale do rio Taquari e na região Carbonífera do Baixo Jacuí (Butiá, Arroio dos Ratos, São Jerônimo e Charqueadas).Estima-se que existam mais de 30 mil produtores de carvão vegetal no território do Rio Grande do Sul.
A maior parte da matéria-prima utilizada para produzir o carvão vegetal, no Estado do Rio Grande do Sul, é originária de florestas monoculturais plantadas de eucalipto (Eucalyptus spp.) e de acácia negra (Acacia mollissima Willd.). A prática de utilizar essências nativas (por exemplo, maricá) já foi abandonada há muitos anos, permanecendo apenas em alguns pequenos produtores isolados.